26/06: Dia Internacional de Apoio às Vítimas de Tortura



 

Em dezembro de 2014 foi divulgado o relatório da Comissão Nacional da Verdade, que detalha como a tortura era praticada por agentes do Estado durante a ditadura militar.

 

Na época, a Ex-Presidente Dilma Rousseff era uma das líderes da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares – VAR-Palmares, e foi presa em janeiro de 1970.

 

Em relato para a Comissão Estadual de indenização às Vítimas de Torturas de Minas Gerais, em 2001, Dilma relatou as torturas que sofreu e como teve um dente arrancado a socos.

 

No caso de Dilma, o principal responsável pela tortura era o Capitão Benoni de Arruda Albernaz. Albernaz era o Chefe da Equipe A de Interrogatório Preliminar da Operação Bandeirantes – OBAN.

 

Abaixo algumas frases do relato de Dilma:

 

“As marcas da tortura sou eu. Fazem parte de mim.”

 

“Quem mandava era o Albernaz, quem interrogava era o Albernaz. O Albernaz batia e dava soco. Ele dava muito soco nas pessoas. Ele começava a te interrogar, se não gostasse das respostas, ele te dava soco. Depois da palmatória, eu fui pro pau de arara.”

 

“Me deram um soco, o dente se deslocou e apodreceu. Tomava de vez em quando Novalgina em gotas para passar a dor. Só mais tarde, quando voltei para São Paulo, o Albernaz completou o serviço com um soco arrancando o dente.”

 

“Eu vou esquecer a mão em você. Você vai ficar deformada e ninguém vai te querer. Ninguém sabe que você está aqui. Você vai virar um ‘presunto’ e ninguém vai saber.”

 

“Tinha muito esquema de tortura psicológica, ameaças. Você fica aqui pensando ‘daqui a pouco eu volto e vamos começar uma sessão de tortura.”

 

“Era aquele negócio meio terreno baldio, não tinha nem muro direito. Eu entrei no pátio da OBAN e começaram a gritar: ‘Mata!’, ‘Tira a roupa’, ‘Terrorista’, ’Filha da puta’, ‘Deve ter matado gente’. E lembro também perfeitamente que me botaram numa cela. Muito estranho. Uma porção de mulheres. Tinha uma menina grávida que perguntou meu nome. Eu dei meu nome verdadeiro. Ela disse: ‘Xi, você está ferrada’. Foi o meu primeiro contato com o ‘esperar’. A pior coisa que tem na tortura é esperar, esperar para apanhar. Eu senti ali que a barra era pesada. E foi. Também estou lembrando muito bem do chão do banheiro, do azulejo branco. Porque vai formando crosta de sangue, sujeira, você fica com um cheiro.”

 

“Acho que nenhum de nós consegue explicar a sequela: a gente sempre vai ser diferente. No caso específico da época, acho que ajudou o fato de sermos mais novos, agora, ser mais novo tem uma desvantagem: o impacto é muito grande. Mesmo que a gente consiga suportar a vida melhor quando se é jovem, fisicamente, mas a médio prazo, o efeito na gente é maior por sermos mais jovens. Quando se tem 20 anos o efeito é mais profundo, no entanto, é mais fácil aguentar no imediato.”

 

“Quando eu tinha hemorragia – na primeira vez foi na OBAN – pegaram um cara que disseram ser do Corpo de Bombeiros. Foi uma hemorragia de útero. Me deram uma injeção e disseram para não me bater naquele dia. Em Minas Gerais, quando comecei a ter hemorragia, chamaram alguém que me deu comprimido e depois injeção. Mas me davam choque elétrico e depois paravam. Acho que tem registros disso até o final da minha prisão, pois fiz um tratamento no Hospital de Clínicas.”

 




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